Conheça as seis categorias utilizadas por Peter Lynch para separar e filtrar as empresas para investir em ações da bolsa de valores.
Um dos maiores investidores de todos os tempos, Peter Lynch vem deixando um grande legado no mundo dos investimentos. Referência no assunto, os seus conceitos têm sido aplicados ao longo das últimas décadas por quem deseja investir em ações de forma melhor e, dessa forma, ter sucesso na jornada financeira.
Entre esses ensinamentos para investir em ações, estão os deixados em uma de suas principais obras: o livro best-seller “O jeito Peter Lynch de Investir” (em inglês, Beating the Street).
Dos principais conceitos citados no livro, separamos neste artigo os filtros que o gestor utiliza para separar as empresas para investir. Siga a leitura e conheça um pouco mais sobre as 6 classificações usadas por Peter Lynch para filtrar as ações.
Quem é Peter Lynch?
Peter Lynch é um dos maiores investidores de todos os tempos.
A sua primeira experiência no mercado financeiro aconteceu no ano de 1966. Foi em 1977, no entanto, que ele efetivamente começou a fazer história no universo dos investimentos.
Nesse ano, Peter Lynch foi contratado para ser o gestor do Fidelity Magellan Fund, que era visto com desconfiança e tinha um valor de 18 milhões de dólares em ativos totais.
Ele ficou no cargo por 13 anos. No período em que esteve à frente da gestão, o fundo conquistou uma média de rentabilidade de 29,2% ao ano, valorizando 2.900% no total. Os 18 milhões de dólares iniciais e ativos passaram a ser 14 bilhões.
Muito desse sucesso pode ser atribuído aos métodos de Peter Lynch para investir em ações, que virou referência para muitos desde então.
O gestor norte-americano se aposentou apenas aos 46 anos, deixando um legado enorme para todos os investidores. Hoje, aos 77 anos, ele se dedica à filantropia e é o presidente da Fundação Lynch, criada por ele e sua falecida esposa, Carolyn Lynch, para contribuir na área da Educação.
Quais as classificações de empresas utilizadas por Peter Lynch para investir em ações?
Para selecionar e investir em ações, Peter Lynch classifica as empresas em 6 categorias diferentes. Dessa forma, ele consegue direcionar o que esperar de cada uma das companhias.
Segundo o autor, em trecho do livro O jeito Peter Lynch de Investir, essa classificação “abrange todas as distinções significativas que qualquer investidor tenha de fazer”.
Abaixo detalhamos essas categorizações retiradas do livro, em tradução para o português. Confira abaixo:
Empresas de crescimento lento
Embora o nome possa criar uma impressão contrária, as empresas de crescimento lento não são opções que estão passando por um mal momento ou que sejam ruins para investir.
Essas empresas geralmente são aquelas que um dia foram de crescimento rápido, mas já atingiram certa maturidade e não tem muito mais oportunidades e espaço para expandir.
Elas, eventualmente, crescem em linha com o PIB do país, apenas para manter a sua consolidação no mercado.
Entre essas empresas, podemos citar companhias de setores resilientes, como o de energia. É importante ressaltar, no entanto, que não podemos incluir todas, já que no Brasil ainda possuímos exemplos do segmento que estão em crescimento moderado ou rápido.
Para exemplificar, podemos citar a Eletrobrás (ELET3/ELET5/ELET6). A companhia é atualmente a maior empresa de energia elétrica de toda a América Latina, atuando fortemente nos setores de Geração e Transmissão.
Já que não têm foco em expansão, essas empresas costumam distribuir os seus lucros em proventos aos acionistas. Portanto, são boas opções para investir em ações em uma carteira com foco em renda.
Companhias de crescimento moderado ou confiáveis
Como o nome já sugere, as empresas de crescimento moderado são as que têm um foco um pouco maior em expansão comparada às de crescimento lento, mas que não tem tanta velocidade como as de crescimento rápido. Portanto, são nomeadas também por Peter Lynch como “confiáveis”.
Essas empresas também são as denominadas “Blue Chips”, termo em inglês já disseminado entre os investidores brasileiros.
Essas são ações de empresas que devem crescer entre 10% e 12% ao ano e podem ser uma boa oportunidade de valorização caso sejam adquiridas no momento certo.
Podemos citar, por exemplo, o Itaú (ITUB3/ITUB4). O banco possui um alto market share e consolidação de mercado, mas ainda assim conseguiu entregar um crescimento considerável ao longo dos anos e tem espaço para crescer mais.
Empresas de crescimento rápido
São as empresas em que se espera um crescimento de no mínimo 20% ao ano. Em seu livro, Peter Lynch diz que essas estão entre as suas preferidas ao investir em ações, já que apenas uma escolha certa pode “fazer a carreira de um indivíduo”.
As ações de crescimento rápido podem multiplicar por diversas vezes. Por isso, é comum encontra as chamadas “tenbaggers” ou “hundredbaggers”, termo usado por Lynch para classificar empresas que multiplicam por 10 ou por 100, respectivamente.
Vale ressaltar que é possível encontrar esse tipo de empresas para investir não somente em setores disruptivos, como o de tecnologia, mas também em setores em baixa. Basta ser uma companhia com um modelo de negócios sólido e vencedor no longo prazo.
As ações categorizadas de crescimento rápido são identificadas primeiramente devido a expectativas — já que elas só terão esse cenário confirmado após o retorno esperado realmente se consolidar.
Portanto, é mais prudente usarmos situações do passado para citar exemplos, como é o caso da Magazine Luiza (MGLU3).
A empresa varejista teve um crescimento avassalador nos últimos cinco anos, realizando diversos desdobramentos e tendo suas ações valorizando em dezenas de milhares.
Ações cíclicas
As ações cíclicas são as de empresas cujos lucros e vendas aumentam e diminuem de maneira regular. Isso devido a fatores específicos de determinados setores da economia que são inevitáveis.
Entre alguns desses setores podemos citar os de automóveis, pneus, aéreo, construção civil e de commodities de modo geral.
Para explicar de forma mais didática, podemos pegar como exemplo a Vale (VALE3) e a Petrobrás (PETR3/PETR4). Elas podem ser consideradas empresas cíclicas, pois os resultados estão diretamente ligados à volatilidade da cotação dos minérios e do petróleo, respectivamente, além da variação cambial do dólar.
Já construtoras, como a EZTEC (EZTC3) e a MRV (MRVE3), têm oscilação de desempenho de acordo com o ciclo imobiliário. Esse ciclo está atrelado à taxa básica de juros e à oferta e demanda da sociedade por moradia.
Como possuem algumas dessas condições pré-determinadas que influenciam os seus resultados, essas empresas podem ser uma ótima opção para investidores que sabem identificar bem os ciclos de mercado.
Isso porque, ao saber o timing certo para entrar e sair desse tipo de investimento, é possível investir em ações dessas companhias e conseguir ótimos retornos.
Empresas em recuperação
As ações em recuperação são as de empresa que estavam em uma situação financeira extremamente alarmante e que tentam uma reação. São também chamadas de “turn-around”.
Por estarem em situação negativa e desacreditadas pelos investidores, elas podem ser uma boa oportunidade para bons retornos em caso de acerto ao investir em ações dessas companhias.
É necessário, no entanto, grande conhecimento da situação da empresa para evitar o risco da ruína.
Portanto, caso o investidor vá adquirir ações de determinado ativo, é necessário saber alguns fatores. Por exemplo: como está o processo de recuperação judicial, se a empresa está se livrando dos passivos que pressionam os seus balanços, como está a estruturação para a saída dessa situação, entre outros pontos.
Um bom exemplo de uma ação que está em recuperação judicial e é observada de perto pelo Mercado por seu potencial é a Via Varejo (VIIA3).
Ações com ativos ocultos
Uma ação com ativos ocultos são as de empresas que possuem algum ativo valioso que ainda não foi identificado pelo Mercado de modo geral. Esses ativos podem ser terrenos, galpões ou até mesmo marcas ou patentes.
Se o analista ou investidor consegue identificar isso antes do mercado, pode ser uma ótima oportunidade para ganho de capital, já que a empresa está subprecificada em relação ao seu potencial de ganhos.
Caso seja identificado um ativo como esse, basta o investidor ter paciência e esperar. Desse modo, o Mercado tome conhecimento para que o retorno sobre o investimento chegue.
Em seu livro, Peter Lynch usa como exemplo a empresa Pebble Beach, que em 1976 era avaliada em 25 milhões de dólares. Em 1979, ela foi comprada pela Twentieth Century-Fox por 72 milhões de dólares.
Alguns dias depois, no entanto, a nova controladora vendeu a pedreira da Pebble Beach, que era apenas um dos muitos ativos da companhia. O total foi um valor de 30 milhões de dólares.
Portanto, apenas esse ativo era mais valioso que todo o valor de mercado pago pelos investidores pela empresa em 1976.
Sobre o livro O jeito Peter Lynch de investir
O livro teve a sua primeira versão publicada no ano de 1992, nos Estados Unidos, com o nome “Peter Lynch Beating the Street”. A obra, no entanto, recebeu diversas atualizações e é comercializada no Brasil com o nome “O Jeito Peter Lynch de Investir”.
Além das classificações das empresas, Peter Lynch usa o livro para explicar diversos conceitos dos seus métodos para investir em ações, ajudando os leitores a se tornarem investidores melhores.
Entre esses conceitos está a defesa de que um investidor pessoa física possui a mesma capacidade de profissionais de mercado de escolher ações vencedoras no longo prazo.
Peter Lynch ainda aproveita para defender os benefícios dos investimentos a longo prazo e de como investir em ações pode trazer recompensas ao investidor.
Com diversos insights atemporais de Peter Lynch, o livro já vendeu mais de 1 milhão de exemplares ao redor do mundo.
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